A expectativa em relação à chamada lista de Fachin e o debate sobre as reformas trabalhista e da Previdência derrubaram a popularidade de líderes dos principais partidos brasileiros: o presidente Michel Temer (PMDB), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os tucanos Aécio Neves e Geraldo Alckmin.
A nova edição da pesquisa Barômetro Político, realizada pela consultoria Ipsos, mostra que 75% dos entrevistados classificaram como ruim ou péssimo o governo federal – e apenas 4% disseram ser um governo ótimo ou bom. É o pior índice desde que Michel Temer assumiu a Presidência, em maio de 2015.
No último mês, de março, 62% achavam que o governo era ruim ou péssimo – e 6% achavam que era ótimo ou bom.
Aumentou, também, a proporção de pessoas que acreditam que o Brasil esteja no rumo errado: 92% dos entrevistados – em março eram 90%.
A enquete, feita durante a primeira quinzena de abril nas cinco regiões do país, pediu que 1.200 pessoas opinassem sobre 27 personalidades do mundo político e jurídico.
Este foi justamente o período de debate mais intenso sobre as propostas de reforma trabalhista e da Previdência pretendidas pelo governo Temer. Também nesta época, começaram a ocorrer vazamentos relacionados às “delações do fim do mundo”, de executivos da Odebrecht, que implicaram dezenas de políticos dos principais partidos.
Em 12 de abril, o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin abriu inquéritos envolvendo oito ministros, 24 senadores, 39 deputados e três governadores. Lula, Aécio e Alckmin são citados na lista e negam irregularidades.
A pesquisa foi realizada antes de depoimentos prestados pelo ex-presidente da empreiteira OAS Léo Pinheiro ao juiz federal Sergio Moro, da Lava Jato, em que alega que Lula teria lhe pedido para que destruísse provas de propina paga ao PT.
Temer
Em uma das perguntas da pesquisa, 87% dos entrevistados disseram não aprovar a maneira como o presidente Michel Temer atua no país. O índice era de 78% um mês antes.
Para Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos Public Affairs e responsável pela pesquisa, a brusca queda de popularidade de Temer – a maior entre os políticos -, se deve principalmente à pauta das reformas, que causa insegurança na população.
“Há um temor enorme de perda de direitos e existe percepção grande de que reformas beneficiam os mais ricos e o governo”, avalia.
“O brasileiro já se sentia desamparado por conta da instabilidade econômica e da crise moral do Brasil. Agora, pelas reformas, se sente inseguro em relação ao futuro. Isso em um contexto em que Temer já tinha uma imagem desfavorável de político tradicional.”
Lula
A segunda maior queda de popularidade entre março e abril é do ex-presidente Lula, cuja aprovação vinha aumentando desde dezembro de 2016. O índice dos que aprovam Lula caiu de 38% a 34%, e 64% dos entrevistados dizem reprovar sua atuação – contra 59% em março.
Cersosismo lembra que Lula vinha em “campanha informal” para as eleições de 2018 por cidades do Nordeste, e sua popularidade tinha registrado aumento na última edição do Barômetro Político. Mesmo assim, não se diz surpreso com a queda.
“Se é verdade que Lula tem maior potencial eleitoral entre nomes conhecidos, ele também tem grande rejeição. O fato de as delações estarem cada vez mais presentes na mídia pode ter freado a tendência de melhoria de imagem dele”, afirma.
“Ele vem de agosto de 2015 até agora mantendo uma aprovação de 30% a 35%. Eu diria que esse é o capital político de Lula, seu índice de eleitores cativos. As flutuações se explicam pela presença dele na mídia, para o bem e para o mal.”
No início de abril, Fachin encaminhou à Justiça Federal do Paraná seis petições com base nas delações da Odebrecht que citavam Lula e pessoas próximas a ele. Os ex-executivos e executivos da empreiteira pintaram um quadro de relação próxima com o petista e possíveis trocas de benefícios particulares por favorecimento à companhia. O Instituto Lula nega que o presidente tenha cometido irregularidades.
O aguardado depoimento de Lula ao juiz Sérgio Moro, marcado para o dia 3 de maio, foi adiado e ainda não tem data definida.
Cersosismo acrescenta, no entanto, que novas delações, como a de executivos da construtora OAS, devem afetar ainda mais a imagem de Lula e de outros nomes tradicionais da política nas próximas semanas.
Chances
Os três presidenciáveis do PSDB – os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP), e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin – também registraram queda de popularidade entre março e abril, e conservam poucas chances de reverter a imagem negativa até 2018, segundo o pesquisador.
“Os indicadores dos tucanos estão dentro da margem de erro, mas mantêm a tendência de aumento da reprovação e de perda do pouco da aprovação que restou. São nomes que já vêm com algum desgaste há algum tempo e devem ficar ainda mais.”
Aécio, que é alvo de cinco pedidos de abertura de inquérito, foi de 74% a 76% de reprovação no último mês. Alckmin, também citado nas delações de executivos da Odebrecht, foi de 67% a 68% de reprovação.
O ex-ministro das Relações Exteriores José Serra, que teria recebido múltiplos pagamentos irregulares da empresa em diferentes campanhas eleitorais, é alvo de um inquérito aberto por Fachin. No novo levantamento do Ipsos, ele manteve a reprovação de 70% de março, mas sua aprovação caiu de 20% para 18%.
Desta vez, a pesquisa também destacou um aumento na popularidade de Marina Silva. Entre os entrevistados, 24% diz aprovar a maneira como ela atua no país (eram 23% em março) e 58% dizem reprovar sua atuação (eram 62% no mês anterior).
“A popularidade de Marina dela oscila muito e, geralmente, quando ela se posiciona, tende a melhorar os indicadores. Desta vez, sua reprovação diminuiu um ponto acima da margem de erro da pesquisa”, diz Cersosismo.
“A questão que fica para Marina, se quiser trabalhar para 2018, é o quanto as futuras delações podem afetá-la, caso se comprovem irregularidades na sua campanha, por exemplo. E também vai ser importante a forma como ela vai se posicionar em relação às reformas. Qualquer nome que queira se lançar presidenciável vai ter que ser questionado sobre isso.”
Entre outros presidenciáveis avaliados – bastante cotados como potenciais candidatos – estão o prefeito de SP, João Doria, e o deputado federal Jair Bolsonaro.
Em abril, a aprovação de Bolsonaro caiu de 14% (em março) para 9% – mas sua rejeição também caiu, de 52% para 48%. Outros 43% dizem que não conhecem o suficiente para avaliar.
No caso de Doria, sua rejeição caiu de 45% para 40%, mas a aprovação também caiu, de 16% para 14%, se igualando à de Geraldo Alckmin, por exemplo. E 45% dizem não conhecê-lo o suficiente.
De acordo com Cersosimo, os dados dos últimos levantamentos têm demonstrado que a insegurança com o futuro do país deve ser o aspecto mais importante das próximas eleições presidenciais.
“Penso que 2018 terá um cenário parecido a 1989, com uma agenda anticorrupção, antiestablishment e pulverizada entre diversos candidatos”, avalia.
“A pauta de qualidade de vida e perspectiva de futuro pode ganhar muita força em 2018, dependendo de quem se apropriar dela. Quem conseguir transmitir segurança e materializar o discurso de que temos que tomar um remédio amargo, mas há esperança no futuro, larga na frente.”