Em meio a crescente pressão internacional sobre o regime do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, o Paraguai cortou relações diplomáticas com Caracas.
“Cortamos relações diplomáticas com a Venezuela porque todas as outras alternativas foram esgotadas”, afirmou à reportagem, por telefone, o chanceler paraguaio, Luis Alberto Castiglioni.
Para ele, a medida não é radical porque Assunção “esteve presente em todos os fóruns de países da região dedicados a discutir a questão e discutir medidas que levassem o ditador Nicolás Maduro ao diálogo, mas nada disso teve resultado”.
Castiglioni pediu que “as outras nações façam o mesmo, porque chegamos a um ponto em que a única solução para acabar com essa ditadura e com a crise humanitária que ela provoca é por meio do isolamento internacional”.
O ministro das Relações Exteriores paraguaio disse também estar esperançoso que o novo governo brasileiro, do presidente Jair Bolsonaro, tome uma decisão em favor de um reclamo do país vizinho pela extradição de dois fugitivos da Justiça local, que estão como refugiados políticos no Brasil desde dezembro de 2003, primeiro ano da gestão Lula.
Trata-se de Juan Arrom e Anuncio Martí, que se encontravam presos no Paraguai aguardando julgamento, acusados de terem sequestrado a mulher de um empresário, no ano anterior, liberada após o pagamento de uma multa. Durante uma saída para receber atendimento médico, eles escaparam.
“Eles se apresentaram como se fossem perseguidos políticos, pelo fato de pertenceram a um grupo de esquerda. Mas o processo contra eles era por conta de um crime comum”, diz Castiglioni.
Arrom e Martí, então, apelaram para Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que deve emitir uma decisão sobre o caso em fevereiro. À CIDH, Arrom e Martí afirmaram que sofreram torturas durante sua prisão, o que o Paraguai nega.
“Nós do governo paraguaio acreditamos que esse órgão está politizado e desviado demais de seu objetivo inicial. Esse é um crime comum que jamais deveria ter chegado a essa instância. Queremos chamar a atenção da comunidade latino-americana para rever suas atribuições. Há coisas mais importantes que deveriam estar analisando, como a situação de abusos de direitos humanos na Venezuela, por exemplo”, diz Castiglioni.
Acrescentou, ainda, que uma equipe do governo paraguaio já teria se reunido com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, e explicado a ele as razões porque desejam que Arrom e Martí sejam entregues à Justiça paraguaia.
Castiglioni diz também ter esperanças de que o novo governo brasileiro colabore mais com a troca de inteligência sobre crime organizado na fronteira do que os governos anteriores.
POR SYLVIA COLOMBO, PARA FOLHAPRESS