O presidente Michel Temer admitiu nesta terça-feira, em entrevista à TV Brasil, que o governo pode mexer na política de preços de combustíveis da Petrobras –para além do diesel acordado com o movimento dos caminhoneiros– e, de acordo com uma fonte ouvida pela Reuters, conversas nesse sentido já começaram entre o governo e a estatal.
“A Petrobras se recuperou ao longo desses dois anos. Estava em uma situação economicamente desastrosa há muito tempo, mas nós não queremos alterar a política da Petrobras. Nós podemos reexaminá-la, mas com muito cuidado”, disse o presidente.
Depois de dúvidas iniciais, devido à qualidade do som, sobre se Temer havia dito “nós podemos reexaminá-la” ou “não podemos reexaminá-la”, duas fontes palacianas confirmaram que a afirmação do presidente foi mesmo “nós podemos reexaminá-la”.
De acordo com uma das fontes, a questão da previsibilidade dos preços –que hoje são reajustados quase diariamente para refletir a variação do preço do câmbio e do petróleo no mercado internacional– terá que ser tratada em breve.
“A política de preços da Petrobras funcionou com a estabilidade da moeda e do petróleo. Sem isso, criou-se um problema. Precisamos estudar alternativas”, disse uma das fontes.
Em meio ao tumulto causado pela greve dos caminhoneiros e da decisão do governo de estabelecer que os reajustes do óleo diesel só poderão ser feitos a cada 30 dias –com uma compensação a Petrobras por eventuais perdas– a empresa chegou a perder, nos últimos dias, mais de 120 bilhões de reais em valor de mercado por reações a uma possível interferência do governo na política de preços da empresa.
“Não dá para congelar a discussão. Não se pode gerar perdas para a empresa, mas temos que analisar o que pode ser feito. Temos que lembrar que a Petrobras é um monopólio, é o único fornecedor do país. Se a sociedade não tem uma outra opção tem que ter alguma forma de preservar o direito do consumidor”, analisou a fonte.
Segundo essa mesma fonte, já houve conversas iniciais entre o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, e o presidente da Petrobras (PETR4.SA), Pedro Parente. Apesar de resistir a mudar a política da empresa, Parente estaria sensível à necessidade de dar mais previsão aos reajustes, desde que não haja perdas para a empresa.
As discussões, no entanto, só devem avançar depois de encerrada de vez a greve dos caminhoneiros e normalizada a situação de abastecimento do país.
“Essa conversa terá que ser feita. Pode não dar em nada, se o dólar se estabilizar”, disse a fonte. “Mas temos que tratar do assunto.”
Uma outra fonte palaciana, consultada pela Reuters há alguns dias, disse que o governo não teria nesse momento recursos para compensar a Petrobras por uma mudança de política que inclua gasolina e gás de cozinha.