Após audiência com o novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse que seu país pretende “aprofundar a cooperação [com o Brasil] em questões de segurança e trabalhar conjuntamente contra regimes autoritários no mundo”.
Em pronunciamento à imprensa brasileira e americana, nesta quarta-feira (2), no Palácio do Itamaraty, Pompeo citou Cuba, Venezuela e Nicarágua.
“Hoje a repressão política em Cuba faz 60 anos e tivemos oportunidade de falar das ameaças na Venezuela e do nosso desejo profundo de devolver a democracia ao povo venezuelano”, afirmou o secretário de Estado americano -o aniversário da Revolução Cubana na realidade foi na terça (1°).
“Se fizermos isso bem, podemos fazer muito para o povo brasileiro, o americano e outros povos ao redor do mundo. É quase sempre verdade que nações trabalham melhor juntas quando compartilham certos valores.”
Pompeo afirmou ter sido “um privilégio incrível testemunhar dezenas de milhares de pessoas nas ruas” na posse do presidente Jair Bolsonaro, na terça (1º). “Foi autêntico e tocante.”
“A transmissão de poder que ocorreu ontem pacificamente não acontece no mundo todo. Na América, Cuba, Venezuela, Nicarágua são lugares onde a população não tem oportunidade de expressar suas visões nem de ter um governo que a atenda. É nesse tipo de questão que pretendemos trabalhar juntos.”
Araújo, em seu primeiro dia de trabalho como ministro de Relações Exteriores, disse que a conversa foi excelente e rebateu críticas de que o realinhamento do Brasil com os Estados Unidos, diante da admiração declarada de Bolsonaro pelo par americano, Donald Trump, seja excessivo.
“Eu gostaria de dizer que, na verdade, o Brasil está se realinhando consigo mesmo, com seus próprios valores e ideais, e o Itamaraty, com o povo brasileiro. O reflexo disso é que nos aproximaremos daqueles grandes países, e pequenos e todos países que comungam desses ideias. A nova relação com EUA é uma consequência desse realinhamento interno do Brasil”, afirmou Araújo.
O novo chanceler, que tomará posse ainda nesta quarta, afirmou que os dois países têm convicções comuns.
“Temos várias ideias concretas que estão sendo discutidas e ao mesmo tempo trocamos ideias sobre nossas visões de mundo e como trabalhar junto por uma ordem internacional diferente, que corresponda aos valores dos nossos povos”, disse.
“Estamos no começo de uma nova etapa, que será muito produtiva, tenho certeza, na relação do Brasil com EUA, que vai ajudar a nossa economia no Brasil a gerar empregos, novas oportunidades de negócios e novas iniciativas em todas as áreas.”
Uma jornalista americana questionou Araújo e Pompeo sobre a preocupação expressada por parte da sociedade civil brasileira com possível perda de proteção de direitos humanos no novo governo. Depois ela emendou pergunta ao americano sobre a prisão de uma russa nos EUA.
Pompeo orientou Araújo a falar primeiro para que ele depois comentasse a questão americana.
Araújo assentiu. Começou a falar em inglês, mas mudou de idioma no meio da resposta. “Não há razão nenhuma para temor de falta de proteção de direitos humanos no Brasil. Melhor falar em português, né?”. Os americanos tinham tradução simultânea disponível.
“Isso é um resquício de campanha eleitoral que sobrevive por alguma razão. O compromisso do nosso governo com a defesa dos direitos humanos é absoluto e inclusive de aumentar alguns direitos que não estão sendo suficientemente defendidos”, encerrou.
Antes da audiência de Pompeo e Araújo, o brasileiro se reuniu com o ministro de Relações Exteriores de Angola, Manuel Domingos Augusto.
Ele negou ter preocupação com a sinalização de uma guinada na política externa brasileira, voltada especialmente a relações bilaterais com países desenvolvidos.
“Não foi o que nós percebemos, antes pelo contrário”, disse. “Sabemos que há um discurso de campanha, um discurso político virado para dentro, mas o Brasil é hoje um país tão importante no mundo que o Brasil só pode ser positivo.”
Augusto disse que, no encontro, Araújo “reafirmou o desejo de dar prioridade a essa cooperação com África e, no caso específico da Angola, ficou traduzido. Os senhores jornalistas viram quem é que se seguiu a mim na audiência com o chanceler, portanto não preciso fazer mais comentários sobre isso.” Com informações da Folhapress.