O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi ao município de Jardim de Piranhas (RN) no início do ano para participar de um evento de celebração da chegada das águas da transposição do rio São Francisco ao estado.
Antes da cerimônia, colocou chapéu de couro, roteiro tradicional de candidatos à Presidência da República em visitas ao Nordeste, e participou de uma “jeguiata” ao lado de ministros e apoiadores.
À época, faltavam oito meses para a disputa pelo Palácio do Planalto. Desde então, o presidente passou a viajar mais e a priorizar agendas de caráter político-eleitoral. Neste ano, ele deixou Brasília mais do que o dobro de vezes em relação ao mesmo período de 2021.
De janeiro a meados de maio de 2021, Bolsonaro esteve em viagem em 18 dias. Em 2022, foram 41 dias com deslocamentos para fora da capital.
O número também é superior aos dois primeiros anos do mandato: em 2019, foram 33 dias com viagens e, no ano anterior, 20.
Os deslocamentos de muitas autoridades foram afetados pela pandemia da Covid-19, que teve seus momentos mais agudos no Brasil em 2020 e no ano passado. Bolsonaro, no entanto, sempre foi um crítico de restrições relacionadas ao vírus, inclusive viagens.
A lei obriga autoridades a divulgarem seus compromissos.
O levantamento foi feito com base na agenda oficial do presidente, que às vezes não contabiliza deslocamentos de final de semana e motociatas. O entendimento do Planalto é que esses são compromissos privados.
Além de o número de viagens ter aumentado, os eventos oficiais do governo passaram a adotar cada vez mais tom de campanha eleitoral.
Neles, o presidente é recebido por apoiadores e aliados organizam motociatas ou passeios pela cidade visitada. Muitas vezes, Bolsonaro faz o que chama de parada espontânea, quando interrompe a programação para conversar com populares em alguma localidade.
Nessas paradas, ele costuma entrar em comércios locais e comer pastel ou outras comidas populares -outra cena recorrente de candidatos durante campanha eleitoral.
Dos 41 dias em que o presidente viajou neste ano, apenas 6 não tiveram tom eleitoral. Foram dois sobrevoos em áreas afetadas pelas chuvas, três viagens internacionais e um encontro com o presidente do Peru, Pedro Castillo, em Porto Velho (RO).
Nos demais, ainda que fossem cerimônias para entrega de obra ou lançamento de programas governamentais, como em Jardim de Piranhas, o clima de campanha esteve presente -seja com a plateia entoando saudações ao presidente, seja no discurso do chefe do Executivo.
Outra estratégia do governo foi a realização de mutirões de regularização fundiária. Como a Folha mostrou, o presidente transformou o programa de reforma agrária em maratona de entrega de títulos de propriedade a antigos beneficiários, sem realizar novos assentamos.
Durante um dos eventos destinados à entrega desses títulos, em Rio Verde (GO), Bolsonaro fez um discurso em que criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o associou ao comunismo -a ideia de que o país corre risco de virar comunista é frequentemente utilizada por aliados para atacar o petista.
“Dizer a vocês, dizer a todos vocês, entre nós aqui, nós sabemos quem é o inimigo da nação. O inimigo da nação não veste verde e amarelo, veste vermelho, e tem na sua bandeira uma foice e um martelo”, disse o presidente.
A maioria dos eventos oficiais é pensada de acordo com a pauta eleitoral. As cerimônias de regularização fundiária, por exemplo, são vistas pela pré-campanha do mandatário como forma de tentar entrar em um eleitorado que tem laços históricos com Lula, primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto.
Outra marca é a tentativa de reforçar a relação com o eleitorado evangélico. Em todas as solenidades, o presidente faz questão de dizer que lidera “um governo de Deus”, faz citações bíblicas e menciona seu slogan: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Nos dias viajados, Bolsonaro participou ainda de encontros de pastores e missas. Em Cuiabá, o chefe do Executivo marcou presença na 45ª Assembleia Geral Ordinária da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil.
O discurso do presidente na ocasião foi repleto de gestos para o eleitorado evangélico. “Temos nossos valores. Também sou cristão, a minha esposa é evangélica, e esses valores estão sendo ameaçados. Hoje sabemos o que fazer para preservá-los”, afirmou Bolsonaro, para em seguida se dizer contra o aborto e a descriminalização das drogas.
Os eventos oficiais também são usados eventualmente para promover candidatos que farão palanque para Bolsonaro nos estados.
Em 15 de abril, sexta-feira de Páscoa, o chefe do Executivo participou de uma motociata com milhares de pessoas em São Paulo. A Acelera para Cristo reuniu motoqueiros com bandeiras do Brasil e também o pré-candidato a governador de São Paulo, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Os motociclistas fizeram o trajeto de 130 km entre São Paulo e Americana. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o reforço no policiamento para o ato contou com mais de 1.900 agentes e custou R$ 1 milhão para os cofres do estado.
O evento não estava na agenda oficial do mandatário. No último dia 16, Tarcísio também participou com Bolsonaro da abertura da Apas (Associação Paulista de Supermercados), no Expo Center Norte.
Mesmo fora do governo e sem nenhum cargo oficial, discursou para uma plateia de 720 pessoas.
Tarcísio também esteve com Bolsonaro na reunião na sexta (20) com Elon Musk, dono da SpaceX, da Tesla e homem mais rico do mundo.
A reunião com o bilionário foi amplamente explorada pela militância bolsonarista e rendeu frutos para Tarcísio nas redes sociais. A publicação de uma foto do ex-ministro com Musk foi um dos conteúdos mais comentados de seus perfis nas redes desde que ele se lançou na disputa pelo governo de São Paulo.
Fonte Noticias ao Minuto