Tratado inicialmente apenas como um nome para dar palanque a Jair Bolsonaro (PL) no maior colégio eleitoral do país, o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) passou a ter sua candidatura ao Governo de São Paulo comemorada por integrantes do governo e acendeu alerta em campanhas de adversários.
Dirigentes de partidos envolvidos na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, em especial do PT e do PL, preveem que a disputa paulista vá reeditar a polarização nacional entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um indício dessa avaliação é o desempenho de Tarcísio em pesquisas, que mostram potencial para figurar no segundo turno –ainda que seja nascido no Rio de Janeiro, não em São Paulo, nem nunca tenha disputado uma eleição.
Dirigentes partidários próximos do ministro se dizem até surpresos porque não esperavam que o auxiliar de Bolsonaro pontuasse com dois dígitos a esta altura do ano.
A expectativa era que em junho, após o início oficial da campanha eleitoral, o ministro tivesse desempenho relevante. Ele será candidato pelo PL.
Em pesquisa Datafolha de dezembro passado, Tarcísio alcança 9% das intenções de voto a depender do cenário.
Em levantamentos mais recentes de outros institutos alcançou os dois dígitos e, quando associado ao apoio de Bolsonaro, figurou atrás só do candidato do PT, Fernando Haddad, que terá Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) como padrinhos.
Na última quinta-feira (24), Tarcísio acompanhou Bolsonaro em uma motociata em São José do Rio Preto, no interior paulista, onde foi recebido aos gritos de “governador”.
O deputado estadual Gil Diniz (PL), aliado da família Bolsonaro e que esteve no evento, afirma que o ministro “arrasta multidões” e “foi uma grata surpresa”. “É um fenômeno político, um cara técnico que politicamente está se mostrando muito viável”, diz à reportagem.
O bom desempenho de Tarcísio nas pesquisas é atribuído, segundo aliados e dirigentes do centrão, a um movimento de grande transferência de votos de Bolsonaro.
Dizem acreditar também que ele poderá, inclusive, repetir em São Paulo o índice que o presidente registrar nas urnas. Hoje, Bolsonaro pontua com cerca de 25% em pesquisas de intenção de votos.
Além disso, em Brasília, o ministro é visto como uma pessoa obstinada e tem mostrado a interlocutores absoluta convicção de que estará no segundo turno. Tarcísio costuma brincar que torce para que digam em debates que ele não é natural de São Paulo: está estudando e memorizando detalhes do estado.
Na hipótese da polarização, quem estará do outro será Haddad. Integrantes da campanha do petista também apostam no crescimento do ministro e o veem no segundo turno contra o ex-prefeito.
No entorno do ex-governador Márcio França (PSB), que também é pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes, a avaliação é que Tarcísio pode, inclusive, atrapalhar o crescimento de Lula no estado.
A análise é que o ministro, por ser visto como alguém mais preparado e ponderado do que Bolsonaro, poderia reduzir a rejeição ao presidente.
Marqueteiros envolvidos no pleito deste ano têm uma leitura simular: apostam que o ministro, por ter a fama de técnico e trabalhador, poderia furar o teto do bolsonarismo, hoje estimado em cerca de um quarto da população.
Tarcísio seria, portanto, um candidato mais agradável aos setores conservadores e à classe média de São Paulo, o que poderia lhe dar a vitória, especialmente se a esquerda estiver do outro lado.
Há, porém, uma ala de integrantes de campanhas adversárias que minimizam o potencial eleitoral do ministro. Argumentam que ele não tem ligação com São Paulo e atribuem seu crescimento em pesquisas a um “boom” gerado por redes bolsonaristas.
Aliados do vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), que compete com Tarcísio pelos eleitores de direita, mantêm o otimismo e dizem crer que o ministro tem crescimento limitado, atrelado ao de Bolsonaro, que guarda alta rejeição.
Rodrigo, que ainda é desconhecido para o eleitor paulista, conta com a migração de votos vindos de outros candidatos hoje mais conhecidos –e, na opinião de seu entorno, Tarcísio não conseguiria atrair esses eleitores.
Interlocutores do vice-governador apontam ainda que, na ponta do lápis, o Governo de São Paulo tem muito mais obras a mostrar no estado do que o governo federal.
Candidato do ex-juiz Sergio Moro (Podemos) em São Paulo, o deputado Arthur do Val (Podemos) também minimiza a preocupação que Tarcísio gera nos adversários, ressaltando que as campanhas vão explorar a rejeição de Bolsonaro para fustigar o ministro.
“Ele vai ter de passar pano para ‘rachadinha’ e pagar pedágio ideológico para falar de vacina e pandemia. Vai ter de ficar justificando por que o governo não fez reformas”, disse Arthur à reportagem.
“Tarcísio tem pouca coisa para mostrar como ministro. Se criou um mito de que o Tarcísio é o pavimentador, que é a coisa mais banal que se tem na política. Ele não é paulista, nunca residiu em São Paulo. É claramente um poste do bolsonarismo”, afirmou.
De acordo com aliados do ministro da Infraestrutura, há um fator que poderia desestabilizar o cenário polarizado na disputa paulista: uma eventual desistência da candidatura do governador João Doria (PSDB) à Presidência.
Para eles, a rejeição de Doria contamina de forma irremediável a campanha de Rodrigo, que é visto como um candidato forte. Apenas na hipótese de o vice não ter de dar palanque ao tucano, poderá representar ameaça ao candidato bolsonarista.
Mais ainda, dizem que essa fórmula só poderia funcionar se o tucano decidisse em muito breve interromper sua candidatura. Senão, não daria tempo de a campanha de Rodrigo reverter os votos.