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Bolsonaro pede adiamento das manifestações e manda recado ao Congresso e defende presidencialismo

Osvaldo Cruz
7 Min Leitura

O presidente Jair Bolsonaro defendeu nesta quinta (12), em pronunciamento na televisão e no rádio, o adiamento das manifestações previstas para o domingo (15), que ele ajudou a convocar.

No discurso de dois minutos, ele aproveitou a oportunidade para mandar um recado ao Poder Legislativo, com o qual tem enfrentado um desgaste nas últimas semanas pela definição dos recursos do Orçamento impositivo.

O presidente ressaltou que o país é uma “democracia presidencialista”. Ele disse que a população exige “respeito à Constituição Federal” e “zelo pelo dinheiro público”. A manifestação a favor do governo pretendia pressionar o Congresso a devolver ao Executivo o controle sobre R$ 30,8 bilhões.

“Os movimentos espontâneos e legítimos marcados para o dia 15 de março atendem aos interesses da nação, balizados pela lei e pela ordem. Demonstram um amadurecimento da nossa democracia presidencialista e são expressões evidentes da nossa liberdade. Precisam, no entanto, diante dos fatos recentes, serem repensados”, disse.

“Não podemos esquecer, no entanto, que o Brasil mudou. O povo está atento e exige de nós respeito à Constituição Federal e zelo pelo dinheiro público”, afirmou.

Bolsonaro disse ainda que a OMS (Organização Mundial de Saúde) classificou o coronavírus como pandemia e que é provável que o número de infectados “aumente nos próximos dias”.

“O sistema de saúde brasileiro, como os [de] demais países, tem um limite de pacientes que podem ser atendidos. O governo está atento para manter a evolução do quadro sob controle”, disse.

Nesta quinta, organizadores decidiram suspender os atos de domingo.

Os protestos estavam previsto desde o fim de janeiro, mas mudaram de pauta e foram insuflados após Heleno ter chamado o Congresso de chantagista na disputa entre Executivo e Legislativo pelo controle do Orçamento deste ano.

Heleno disse que a postura de deputados e senadores de exigir a administração do montante “contraria os preceitos de um regime presidencialista” e acrescentou que eles devem mudar a Constituição Federal “se desejam o parlamentarismo”.

Dias depois, Bolsonaro compartilhou em um grupo de aliados um vídeo que convocava a população a ir às ruas para defendê-lo. Na semana seguinte, em discurso, chamou a população a participar do ato, o que mais uma vez irritou as cúpulas do Congresso e do Supremo.

Além de apoiar o presidente, os organizadores da manifestação carregam bandeiras contra o Legislativo e o Judiciário e a favor das Forças Armadas. Nas redes sociais, usuários compartilharam convocações com mensagens autoritárias, pedindo, por exemplo, intervenção militar.

Ao longo do dia, Bolsonaro consultou aliados sobre a hipótese de desestimular publicamente a presença de apoiadores no ato. Segundo interlocutores do presidente, o empresário Luciano Hang foi um dos que o aconselharam a desencorajar a participação dos simpatizantes.

Entre os argumentos apresentados a Bolsonaro estava o risco de o medo do coronavírus inibir a mobilização a favor do governo. Nas conversas, o presidente citou a ameaça de aparição de black blocs, usando como exemplo o fato de o governador do Distrito Federal, por exemplo, ter informado que não enviaria policiais para a proteção do ato em Brasília.

O presidente realizou exames nesta quinta, depois da confirmação de que o chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicação da Presidência), Fabio Wajngarten, está com a covid-19.

Wajngarten fez parte da comitiva liderada por Bolsonaro que, entre 7 e 10 de março, realizou uma visita oficial à Flórida (EUA).

Durante a viagem, o mandatário brasileiro jantou com o presidente americano, Donald Trump. Wajngarten também teve contato e posou para fotos com o líder dos EUA.

Além de Bolsonaro e do secretário especial de Comunicação, outros integrantes da comitiva também estão seguindo protocolos médicos e realizando exames para verificar se têm coronavírus. É o caso de um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (sem partido-SP), e da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que fizeram testes clínicos.

A suspeita de que Wajngarten estava com a doença foi revelada pela coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.

Com o risco de contágio, a rotina administrativa do Palácio do Planalto será alterada. Além da maior restrição ao acesso de pessoas, os eventos e solenidades devem ser suspensos e o cumprimento diário do presidente na entrada do Palácio da Alvorada deve ser modificado.

Bolsonaro foi advertido pela equipe médica a evitar a interação diária com apoiadores na entrada da residência oficial. Desde meados do ano passado, ele costuma descer do comboio presidencial para saudar seus simpatizantes, além de apertar mãos e tirar fotos.

A orientação é para que, nas próximas semanas, Bolsonaro se limite a acenar e a conversar com o público a uma distância segura. A recomendação é para que ele também evite viagens pelo país para participar de inaugurações ou anúncios.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou na quarta (11) que existe uma pandemia de coronavírus.As primeiras modificações na rotina do presidente já ocorreram. Bolsonaro cancelou uma viagem a Mossoró (RN) prevista esta quinta.

Segundo relataram interlocutores à reportagem, foi-lhe dito que tanto o deslocamento em aeronave quanto a participação em evento -em um ambiente com aglomeração- seriam problemáticos no cenário de avanço da doença.

Já há mais de cem casos de coronavírus confirmados no Brasil.

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