Por trás da folia da micareta, há mães e pais desesperados, sem ter o que colocar na mesa para alimentar os filhos.
Enquanto os tambores da micareta de Feira de Santana se aquecem para mais uma edição da festa, um outro som ecoa nas ruas da cidade: o clamor silencioso de dezenas de trabalhadores terceirizados que ainda não receberam seus salários, vales-transportes e auxílios-alimentação do mês. Funcionários contratados pela empresa Confiança, responsável por serviços prestados à Prefeitura Municipal de Feira de Santana, denunciam o atraso nos pagamentos e a falta de transparência e respeito com que estão sendo tratados.
“Estamos passando fome”, relatou uma funcionária, mãe de três filhos, que preferiu não se identificar. “Trabalho todo dia, cumpro meu horário, e no final do mês não recebo. Como vou alimentar meus filhos? Como vou pagar passagem para trabalhar de novo?”
O drama de quem vive com o básico virou um pesadelo. Muitos funcionários afirmam que parte do grupo recebeu seus pagamentos, enquanto outra parte ficou de fora, sem qualquer explicação. A empresa teria alegado um “recadastramento” como motivo para a suspensão dos pagamentos, orientando os trabalhadores a enviarem cópias de extrato bancário, nome do posto de trabalho e telefone do diretor da unidade onde atuam — tudo isso pelo WhatsApp.
O aviso, sem caráter oficial, circulou de celular em celular, o que levanta dúvidas sobre a seriedade e a fiscalização da empresa junto aos órgãos públicos. “Isso não é forma de fiscalizar. Parece que eles nem sabem onde a gente trabalha. Era obrigação deles acompanharem de perto. Se quisessem fiscalizar, que fosse presencialmente, e só suspendessem o pagamento de quem realmente estivesse em falta”, desabafa outra funcionária.
O mais grave é que mesmo após cumprir todas as exigências e enviar os documentos solicitados, muitos ainda não receberam nada até o dia 23 de abril. A única resposta da empresa? “Aguarde a regularização.”
“Regularização de quê, se já fizemos tudo o que pediram?”, questiona um funcionário revoltado. “Cadê o prefeito Zé Ronaldo? Cadê o secretário Pablo Roberto? Será que ninguém está vendo que estamos sendo deixados de lado? Querem nos matar de fome?”
O contraste é cruel. Enquanto servidores efetivos e secretários se preparam para curtir a micareta com seus salários em dia, muitos funcionários da empresa Confiança sequer conseguiram fazer uma refeição decente na Semana Santa. “Faltou comida em casa. Meus filhos não entenderam por que não teve peixe esse ano”, conta uma trabalhadora com lágrimas nos olhos.
A situação é urgente, e clama por ação imediata das autoridades. O povo que trabalha não pode ser esquecido. Eles não pedem favores. Eles só querem o que é deles por direito: salário digno, respeito e comida na mesa.