A Câmara Municipal de Feira de Santana aprovou, na última terça-feira (11), um projeto de lei que autoriza a prefeitura a contratar um empréstimo de até 54 milhões de dólares (cerca de R$ 300 milhões) junto ao FONPLATA (Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata). O recurso será destinado à execução do Programa de Drenagem Urbana Sustentável e Mobilidade Eficiente.
Até aí, nada fora do comum, certo? Errado. A aprovação desse projeto, a apenas 20 dias do fim do mandato do prefeito Colbert Martins (MDB), levanta sérias questões sobre a dinâmica de poder nos bastidores da Câmara. Durante quase todo o mandato de Colbert, pedidos semelhantes foram barrados com veemência pelos vereadores, em especial pelo presidente da Câmara, Fernando Torres (PSD), e, mais recentemente, pela vereadora Eremita Mota (PP). Colbert foi muitas vezes humilhado e teve seus projetos arquivados ou engajados sem sequer uma chance de tramitação.
Do bloqueio ao desbloqueio: o que mudou?
O timing da aprovação causa espanto. Por que somente agora, às vésperas de um novo governo, os projetos começaram a fluir? Após sucessivos fracassos de Colbert em conseguir aprovação para o financiamento tão almejado, bastou a contagem regressiva para o fim de sua gestão começar, e, subitamente, portas que estavam hermeticamente fechadas se escancaram.
O projeto de lei aprovado na Câmara permite que o futuro prefeito, José Ronaldo de Carvalho (União Brasil), assuma o comando da cidade com uma verdadeira carta na manga: R$ 300 milhões de crédito garantido. É dinheiro suficiente para iniciar grandes obras e, claro, pavimentar sua gestão com resultados marcantes logo de cara.
Enquanto isso, Colbert deixará o governo de mãos vazias, mesmo tendo sido ele o principal defensor de projetos como o financiamento internacional agora aprovado. Não terá a oportunidade de executar o que vislumbrou e, como último ato, assistirá ao seu sucessor colher os frutos de recursos que ele, por diversas vezes, tentou garantir durante a sua gestão.
Jogos de poder ou estratégia política?
A pergunta que ecoa nas ruas de Feira de Santana é: quem realmente travou Colbert na Câmara Municipal? E, mais intrigante, o que aconteceu nos bastidores para que as coisas mudassem tão drasticamente em tão pouco tempo? Seria este um golpe final para minar qualquer legado do atual prefeito? Ou uma união para garantir que José Ronaldo inicie seu mandato com força total?
Eremita Mota a maior algoz de Colbert na Câmara, agora facilita o andamento de projetos cruciais, como o dos precatórios e este empréstimo milionário. A súbita mudança de postura parece muito mais do que coincidência.
O fim melancólico de um governo “engessado”
Colbert Martins encerra seu mandato com o sabor amargo da inércia imposta. Ele não conseguiu “nem um rabisco”, como ironiza seus críticos. Enquanto isso, José Ronaldo já desponta como figura poderosa, mesmo antes de assumir o cargo oficialmente.
Para Colbert, resta o legado de ter enfrentado uma Câmara hostil e ver suas principais propostas aprovadas apenas quando não havia mais tempo para executa-las. Para José Ronaldo, o futuro se deseja promissor, com milhões na conta e, aparentemente, aliados estratégicos bem posicionados.
Feira de Santana segue observando atentamente. Afinal, as peças desse jogo de xadrez político ainda estão longe de serem totalmente reveladas.