Publicidade
Publicidade

ALBA: Valorização da vida da juventude negra é debatida em audiência pública

Osvaldo Cruz
6 Min Leitura

De acordo com a Rede de Observatórios da Segurança, a Bahia é o estado mais letal do Nordeste para a juventude negra. Essa estatística motivou a realização de uma audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da Assembleia Legislativa, nesta terça (26). O proponente do encontro foi o deputado Hilton Coelho (Psol).

Segundo o socialista, diante do triste cenário de violência que atinge a juventude negra e suas famílias na Bahia, urge que a Casa tome a iniciativa de iniciar a apuração de levantamento de dados mais precisos sobre o genocídio da juventude negra, fazendo um diagnóstico do atual quadro de mortes na Bahia, para que se possa apontar medidas preventivas e de valorização e priorização da vida da juventude negra e periférica. Além disso, prossegue Hilton, é preciso alertar o Estado sobre a necessidade de se tomar medidas estruturais para combater a violência e a criminalidade existente, coibir e responsabilizar os agentes incumbidos de garantir a segurança pública, envolvidos em casos de violência, abusos e desaparecimentos.

O parlamentar defende a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as constantes mortes de jovens negros e periféricos, em muitos casos, praticadas pelo Estado.

O pedido para instalação da CPI foi um clamor unânime das mães, familiares e movimentos da sociedade civil que se revezaram nas falas durante a audiência para falar dos maus tratos deferidos por policiais militares, civis e dos guardas municipais de Salvador aos moradores da periferia.

Para tentar diminuir os números da violência policial citada, o deputado Hilton Coelho citou indicação endereçada por ele ao governador da Bahia, Rui Costa, solicitando a implantação de sistema de vídeo e áudio nas viaturas automotivas, nas aeronaves e nos uniformes de todos os policiais militares e dos policiais civis, estes quando em grandes operações na Bahia. São Paulo, Santa Catarina e Rondônia são os estados brasileiros que já aderiram ao uso das câmeras nos fardamentos e já apresentam redução nos índices de mortes nas periferias e de morte dos próprios agentes de segurança.

Coronel da PM da Bahia, Roberto Fiuza da Silva, diretor do Departamento de Polícia Comunitária e Direitos Humanos, afirmou que a polícia está criando o hábito de ouvir as pessoas para construir uma sociedade melhor. Ele destacou, porém, que não pode responder por mais de 30 mil soldados que estão na corporação e que não pode ter respostas conclusivas sobre as reclamações dos movimentos sociais. “A Polícia Militar da Bahia não coaduna com práticas violentas dos seus policiais”.

A ausência de representante da Secretaria de Segurança Pública na audiência foi citada e sentida pelos presentes.

“É preciso

pensar como as condições de segurança permitem um melhor acesso às cidades e produzem experiências que não são organizadas a partir da repressão, da vigilância e da violência, mas sim da ocupação e das produções coletivas. Ocupar a cidade é uma forma de permitir também mais segurança para a circulação das pessoas, além de gerar renda e um conjunto amplo de oportunidades de ações educacionais e culturais. Uma agenda que possa se conectar com a luta por sobrevivência nas cidades brasileiras, e pela existência, pelo direito de não sermos exterminados, pelo direito de circularmos e produzirmos em nossos territórios e além”, disse Coelho.
A vereadora de Salvador Laina Crisostomo falou que o Estado deveria acolher e fazer um amplo debate sobre descriminalização das drogas. “A militarização das escolas não é a solução, a PM não é a solução”.
Pedidos por uma polícia cidadã e pela desmilitarização da Polícia Militar também foram ouvidos na reunião.
A presença única do deputado Hilton Coelho também foi citada pelos presentes. A ausência de parlamentares apoiando a CPI do Genocídio também foi criticada pelos representantes da sociedade civil. “A CPI é uma questão de honra, uma questão de vida. Precisamos da assinatura de todos os parlamentares que defendem a vida”, disse Tâmara Azevedo, do Coletivo de Entidades Negras. Os movimentos sociais presentes devem percorrer os gabinetes dos parlamentares solicitando a assinatura para instalação da CPI.
DIA DE LUTA
Com proposta de Hilton Coelho, o dia 6 de fevereiro deve ser lembrado como o Dia Estadual de Luta contra o Genocídio dos Jovens Negros e Periféricos no Estado da Bahia, em referência à data em que, na Vila Moisés, no bairro do Cabula, 12 jovens, com idades entre 15 e 28 anos, foram executados por policiais militares durante uma operação. Essa tragédia, que aconteceu no ano de 2015, ficou conhecida como “Chacina do Cabula”.
Ascom
Compartilhe este artigo