Geralmente crítica e polêmica, a produtora cultural Maria de Lourdes Souza Santana surpreendeu na sessão solene na noite desta quinta-feira (22), com um discurso tranquilo e pontuado pela emoção. Ela foi homenageada pela Câmara Municipal com a Comenda Maria Quitéria, outorgada por iniciativa do vereador José Carneiro Rocha. A sessão foi também comemorativa do Dia Municipal da Capoeira.
“A Comenda me deixa muito honrada e feliz. Ainda tenho o que fazer. Quero receber outras comendas, medalhas. Acho que mereço, sim. Ser reconhecido em seu município é bom demais”. As frases cheias de significado demonstraram a alegria da criadora do Núcleo Cultural e Educativo Odungê e da Companhia de Dança Afro Odungê, que pediu aos presentes para passarem adiante a sua felicidade.
Lourdes Santana disse que todo o seu trabalho movimento negro teve o incentivo de pessoas especiais, citando o irmão e cantor Gilsan, Anunciação, Nilton Rasta, Cristina, Jorge de Angélica, Dionorina, Marialvo barreto, Reginaldo Pereira e Madalena de Jesus, além de Conceição Lôbo, Elis Regina e Anchieta Nery e Aparecida Machado, esses já falecidos. “Não sou santa. Sou polêmica e faço críticas”, disse, ao cobrar dos poderes públicos mais ações afirmativas.
Ela falou da recente lei que cria a Frente Parlamentar da Promoção da Igualdade Racial, de autoria do vereador Cadmiel Pereira, e lembrou ex-vereadores que também contribuíram para o movimento negro com legislações para o segmento, dentre eles Marialvo Barreto (autor de três leis) e José Pedroso (Dia Municipal da Capoeira). Vale lembrar que a homenageada também é criadora do concurso Beleza Negra de Feira de Santana e preside o Conselho Municipal das Comunidades Negras.
Ao saudar a homenageada e convidados, o vereador José Carneiro falou sobre a trajetória da mesma no movimento negro, destacando a sua origem – filha de Maria São Pedro (Bia) e Joaquim Santana – de feirense e moradora do bairro Campo Limpo. “Maria de Lourdes faz parte de uma família de artistas reconhecidos, como o cantor Gilsan”, citou o presidente, lembrando que a produtora tem um filho e três netas.
“A mulher negra quer e conquista seu espaço, pois tem forma, inteligência e capacidade para comper paradigmas machistas e racistas”, afirmou José Carneiro, justificando a homenagem a Lourdes Santana pela vida dedicada à prestação de serviços à sociedade feirense. Ele ainda fez referência ao mês da consciência negra.
As pessoas presentes à sessão tiveram acesso ainda a uma verdadeira aula sobre capoeira, com a palestra de Luciano dos Reis Silva. “A capoeira nasce da exclusão”, resumiu, para em seguida descrever: É uma luta desenvolvida pelos negros africanos, quando cativos no Brasil, no combate a qualquer tipo de opressão, vibrando pelo livre expressar da vida.
A essência revolucionária e emancipatória da luta que se disfarçou de dança foi destacada por Luciano, bem como a sua importância para a preservação da memória ancestral africana. “Através dos seus rituais, cantos e melodias contam a história do processo civilizatório do Brasil, à luz do olhar do povo excluído, do povo preto, do povo da periferia”, afirmou. Hoje, disse, a capoeira faz parte da educação não formal, emancipação e inclusão social.
Educação, respeito, qualidade de vida e cidadania
Arte que leva Feira para fora do país
O presidente do Legislativo compôs a Mesa de Honra ao lado de Paulo Aquino, ex-vereador da Casa e atualmente secretário municipal de Governo, representando o prefeito Colbert Martins da Silva Filho; o palestrante e a homenageada da noite. No plenário, personalidades como Moema Pinto Franco, representando Ildes Ferreira, secretário municipal de Desenvolvimento Social Ildes; e o professor e ex-vereador Marialvo Barreto.
Ascom/ Madalena de jesus
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