Após colocar um ponto final na crise com o agora ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) abriu fogo contra outro político: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Nesta quinta (16), Bolsonaro acusou Maia de conspirar para tirá-lo do Palácio do Planalto e qualificou como péssima a atuação do deputado. “Parece que a intenção é me tirar do governo. Quero crer que esteja equivocado”, disse Bolsonaro, ao comentar a aprovação pela Câmara de um projeto de socorro aos estados em meio à pandemia do coronavírus.
A parlamentares, como revelou a Folha de S.Paulo, o presidente tem dito que recebeu um dossiê com informações de inteligência de que Maia, o governador João Doria (PSDB) e um setor do Supremo Tribunal Federal estão tramando um plano para dar um golpe e tirá-lo do governo. Sob esse argumento, deu início a conversas com líderes de partidos. Ele não apresentou a nenhum deputado ou senador qualquer prova do suposto plano arquitetado.Essa não é a primeira vez que os presidentes dos dois poderes se desentendem. Relembre outros embates entre Maia e Bolsonaro.
A “velha política” (11.mar.2019)
No mesmo dia em que anunciou que iria liberar R$ 1 bilhão de emendas parlamentares, Bolsonaro afirmou que existe uma “pressão enorme” do que chama ele de “velha política”.”Vocês sabem que as pressões são enormes porque a velha política parece que quer nos puxar para fazer o que eles faziam antes. Nós não pretendemos fazer isso.”
A fala ocorreu em um momento em que o governo tinha de fazer esforços para ampliar sua base na Câmara, que instalava comissões na Casa e iniciava a tramitação da reforma da Previdência, considerada crucial para a atual gestão.
Toma lá dá cá (20.mar.2019)
Em resposta à declaração de Bolsonaro de que havia “pressões enormes” por parte do Congresso, Maia disse que, ao mesmo tempo em que critica, o governo quer interferir no Legislativo.”Eu acho engraçado. Quando dizem que o Parlamento quer indicar alguém no governo é toma lá da cá. Quando eles querem indicar relator aqui e interferir no processo legislativo não é toma la da cá?”
Menos tempo para o Twitter (22.mar.2019)
Em viagem ao Chile, Bolsonaro afirmou que estaria à disposição para conversar com Maia. A fala foi uma resposta a críticas do deputado sobre a falta de articulação do Planalto para aprovar a Reforma da Previdência.”Só conversando. Você nunca teve uma namorada? E quando ela quis ir embora o que você fez para ela voltar, não conversou? Estou à disposição para conversar com o Rodrigo Maia, sem problema nenhum”.No mesmo dia, em entrevista ao Jornal Nacional, o presidente da Câmara retrucou e disse que Bolsonaro precisava “ter mais tempo para cuidar da previdência e menos tempo cuidando do Twitter, porque senão a reforma não vai avançar”.
Situação pessoal (23.mar.2019)
No dia 23 de março, Bolsonaro voltou a criticar o que classifica de “velha política” e atacou Maia.”A bola está com ele [Maia], já fiz a minha parte, entreguei, o compromisso dele é despachar e o projeto andar dentro da Câmara, nada falei contra o Rodrigo Maia, muito pelo contrário, estou achando que está havendo um tremendo mal-entendido”, afirmou.”Eu até perdoo o Rodrigo Maia pela situação pessoal que ele está vivendo. O Brasil está acima dos meus interesses e do dele. O Brasil em primeiro lugar”, disse Bolsonaro, em referência à prisão, na época, do ex-governador do Rio de Janeiro Moreira Franco. Maia é casado com a enteada do político.
Brincando de presidir (27.mar.2019)
Em março de 2019, ainda durante imbróglio causado pela articulação da reforma da Previdência, Maia afirmou que Bolsonaro brincava de presidir o país.”Abalados estão os brasileiros que estão esperando desde 1º de janeiro que o governo comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza e o presidente brincando de presidir o Brasil.”
Ataque às instituições (10.jul.2019)
Ao aprovar a reforma da Previdência, a Câmara ovacionou Rodrigo Maia, que, em seu discurso, fez críticas veladas ao presidente e disse que foi o centrão que aprovou o projeto.”O Centrão, essa coisa que ninguém sabe o que é, mas é do mal, mas é o Centrão que está fazendo a reforma da Previdência, esses partidos que se dizem do Centrão”, afirmou ele.”Investidor de longo prazo não investe em país que ataca das instituições. E acho que esse é um conflito que nós temos hoje e que nós temos que superar”, disse.
Produto de nossos erros (8.ago.2019)
Em evento da Fundação Lemann, em São Paulo, Maia chamou Bolsonaro de “produto de nossos erros’. “A pergunta é onde nós erramos”, disse o deputado.
Saiam às ruas (15.mar.2020)
Após sofrer críticas de Maia e do presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP) por ter incentivado e participado de manifestações em meio à pandemia, Bolsonaro desafiou os dois parlamentares a também sair às ruas.”Eu gostaria que eles saíssem às ruas como eu. A resposta é esta. Nós, políticos, temos responsabilidade e devemos ser quase que escravos da vontade popular. Saiam às ruas, esses dois parlamentares. Respeito os dois, não tenho nenhum problema com eles. Estão fazendo as suas críticas, estou tranquilo no tocante a isso. Espero que eles não queiram partir para algo belicoso depois destas minhas palavras aqui”, disse Bolsonaro.”Agora, prezado Davi Alcolumbre, prezado Rodrigo Maia, querem sair às ruas? Saim às ruas e vejam como vocês são recebidos”, prosseguiu o presidente da República.
Popularidade de rede social (7.abr.2020)
Durante a crise entre Bolsonaro e Mandetta, Maia criticou o presidente. O deputado acusou Bolsonaro de usar uma estrutura paralela para tentar desqualificar aqueles que avalia serem seus inimigos.”O presidente trabalha com popularidade, pena que popularidade de rede social. É assim na relação dele com o [ministro da Justiça, Sérgio] Moro e tem sido agora assim na relação dele com o Mandetta”, afirmou.”E sempre usando essa estrutura paralela para tentar desqualificar quem ele considera, vamos dizer assim, inimigo dele, que possa ser adversário dele”. No dia, Maia ainda criticou ainda o desgaste gerado pelo rumor e disse que, no momento, é melhor “respeitar a ciência do que fritar o ministro da Saúde”.
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