O presidente Jair Bolsonaro (PSL) quer reeditar na campanha municipal de 2020 o cenário que o levou ao comando do Palácio do Planalto. Disposto a atuar como cabo eleitoral, ele tem estimulado aliados políticos a se lançarem candidatos em capitais sob o discurso de que dará apoio a nomes que defendam iniciativas de seu governo.
A ideia é reproduzir a polarização da última eleição presidencial, em uma tentativa de fortalecer o Planalto e frear o avanço da esquerda.
Segundo pesquisa Datafolha publicada nesta segunda-feira (8), Bolsonaro tem aprovação de 33% da população. Para 31%, ele é regular, e para outros 33%, ruim ou péssimo. Com isso, Bolsonaro se mantém como o presidente em primeiro mandato com a pior avaliação a esta altura do governo desde Fernando Collor de Mello, em 1990. O cenário é similar ao de três meses atrás.
A avaliação dos auxiliares do presidente é de que as eleições municipais serão decisivas para evitar o crescimento da oposição e construir uma base que viabilize uma reeleição em 2022. “Ele vai apoiar candidaturas alinhadas a ele, mas não necessariamente da sigla dele”, disse à reportagem o porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rego Barros.
Segundo ele, Bolsonaro irá agir para “selecionar aquelas pessoas que, dentro ou fora de seu partido, possam colaborar para que ele termine seu mandato colocando o país nos trilhos”.
Em junho, por exemplo, em reunião no Palácio do Planalto, Bolsonaro estimulou a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) a sair candidata à Prefeitura de São Paulo com o seu apoio. No encontro, a chamou de “minha prefeita”. Em paralelo, ele avalia uma eventual filiação do apresentador José Luiz Datena ao PSL.
No Rio, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL) foi lançado na semana passada como pré-candidato à sucessão do prefeito Marcelo Crivella. Em Curitiba, o deputado estadual Fernando Franschini (PSL), um dos coordenadores da campanha presidencial de Bolsonaro, já costura sua candidatura a prefeito, assim como o deputado estadual André Fernandes (PSL), em Fortaleza. Em Campo Grande (MS), circula o nome do deputado federal Dr. Luiz Ovando (PSL).
Para correligionários de Bolsonaro, ele deve ser o principal cabo eleitoral do campo conservador em 2020. Eles argumentam que o desgaste da classe política não tem colado no presidente e dizem acreditar que a melhora da economia e a pauta da segurança podem aumentar sua popularidade. “Ele será o maior cabo eleitoral para as eleições do ano que vem”, disse o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP). Segundo ele, a meta da direção nacional do partido é ter candidatura própria no maior número possível de municípios.
O senador diz acreditar que o cenário político que levou Bolsonaro ao Planalto continua até a eleição municipal, mas avalia que o presidente não deve se envolver diretamente nas costuras de candidaturas a prefeito para não ampliar problemas de articulação no Poder Legislativo. “Tentar arrastar o presidente para botá-lo em conflito e comprometer as mudanças que têm que ser feitas seria uma grande sacanagem do PSL”, disse o líder do PSL.
Em busca de chapas fortes, o PSL tem mantido conversas com o DEM em algumas capitais estaduais, como Salvador, onde pode apoiar o vice-prefeito e secretário municipal de Infraestrutura, Bruno Reis.”O DEM tende a dar liberdade para cada estado articular alianças de acordo com a realidade local. Eleições municipais respeitam muito o cenário local. A influência nacional não é muito forte”, diz o prefeito da capital baiana e presidente nacional da sigla, ACM Neto.
Líderes de outros partidos também relativizam a influência de Bolsonaro. Reservadamente, reconhecem que haverá um rescaldo do ano passado, mas que deve haver um desencanto natural da parcela de não-bolsonaristas que votou nele por falta de opção.
Em contraposição a Bolsonaro, siglas de esquerda também iniciaram articulações. Em abril, elas chegaram a discutir a formação de uma coalizão de oposição, com candidaturas únicas nas principais capitais. A avaliação feita por líderes das legendas, entre elas PT, PSOL , PDT e PSB, era de que não se pode desperdiçar a oportunidade para tentar recuperar o protagonismo da esquerda e barrar o avanço da direita, sobretudo do PSL.
Hoje, no entanto, a possibilidade de uma frente eleitoral, com candidaturas únicas, é considerada pouco provável. Em São Paulo, por exemplo, o PT avalia o nome do deputado federal Alexandre Padilha, enquanto o PSB prega o do ex-governador Márcio França e o PDT discute o da deputada federal Tabata Amaral. No Rio de Janeiro, por sua vez, o PSOL quer lançar o deputado Marcelo Freixo, que ficou em segundo lugar na disputa municipal de 2016.
O PDT considera o nome da deputada estadual Martha Rocha e o PSB discute o do deputado federal Alessandro Molon. No Recife, apesar da composição do PT com o PSB, a esquerda pode aparecer, inicialmente, com três nomes: os deputados federais João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), além do também deputado Túlio Gadêlha (PDT). “Bolsonaro não seria um bom cabo eleitoral. Ele é como um produto ruim comprado pela internet. Quando chega em casa, causa decepção”, disse o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.