A dinheirama continua, oficialmente, sem dono. Desde o último dia 6, os 51 milhões de reais encontrados em um apartamento no bairro da Graça, em Salvador, usado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima, estão depositados em juízo sem que ninguém tenha reclamado sua posse. O produto da maior apreensão já feita pela Polícia Federal, no entanto, não tem um único proprietário, suspeitam os investigadores, mas pertence à mesma quadrilha.
Os indícios coletados até agora apontam para a hipótese de que o apartamento funcionava nos moldes de um banco clandestino que servia aos interesses do PMDB — um bunker de armazenamento e distribuição de dinheiro arrecadado em forma de propina e caixa dois por operadores a mando de caciques do partido.
São dois os elementos-chave que sustentam a linha de investigação. O primeiro é a confissão do advogado Gustavo Ferraz, tido como braço-direito de Geddel e preso no mesmo dia que seu chefe. Ele foi filmado por câmeras do circuito de segurança do edifício da Graça entrando e saindo do imóvel pelo menos doze vezes com malas, mochilas e caixas e vinha sendo monitorado pela polícia fazia pelo menos seis meses. Na semana passada, em seu primeiro depoimento, Ferraz admitiu ter sido encarregado por Geddel de coletar, periodicamente, em São Paulo, quantias em dinheiro vivo que lhe eram entregues por um assessor de Eduardo Cunha, o ex-presidente da Câmara, preso desde o ano passado.
O segundo elemento a sustentar a hipótese é o depoimento do operador Lúcio Funaro. Em agosto, ele declarou à Polícia Federal ter entregue “malas e sacolas” com dinheiro vivo ao ex-ministro Geddel entre 2014 e 2015. Só nesse período, o montante totalizou 11 milhões de reais, afirmou. A polícia acredita que o valor esteja incorporado à dinheirama do imóvel da Graça.