O presidente Michel Temer reagiu com cautela ao anúncio de que a Procuradoria-geral da República vai investigar e pode desfazer o acordo de delação premiada com os executivos da J&F, mas o Palácio do Planalto comemorou o que já pode ser contado como um ganho político para o governo.
“A consequência política mais evidente é no Congresso. O que aconteceu já é grave o suficiente para ter impacto político sim”, disse uma fonte palaciana.
Temer estava acordando em Xiamen (China), onde participa da Cúpula dos Brics, quando foi informado de que Janot faria um pronunciamento, contou um auxiliar do presidente. Depois, foi informado pelo mesmo auxiliar do conteúdo das declarações do procurador-geral.
“O presidente recomendou cautela e serenidade. Precisamos avaliar os fatos para ter um diagnóstico mais preciso. Teoricamente foi positivo para o governo, mas é preciso esperar para ter todos os fatos”, disse a fonte.
Temer ainda estava tentando fazer contato com seu advogado, Antonio Mariz de Oliveira, para ter mais detalhes das consequências. Uma delas, explicou a fonte, pode ser o questionamento das provas que foram apresentadas.
As declarações do procurador-geral, Rodrigo Janot, que colaboradores –um deles é Joesley Batista, um dos donos da JBS, controlada da J&F– omitiram informações com indícios de crimes “gravíssimos” confirma, segundo a fonte, a tese defendida pelo Planalto desde o início, de que a denúncia era açodada e de que havia mentiras e omissões.
“Desde o início falamos que tinha de investigar mais profundamente para fazer uma denúncia contra o presidente da República. A tese de que havia mentira e omissão está comprovada”, disse a fonte.
O Planalto esperava para esta semana a segunda denúncia que Janot sinalizou que apresentará contra o presidente Michel Temer. No Congresso, parlamentares, mesmo da base, admitiam que o governo saiu enfraquecido da negociação para barrar a primeira denúncia e que a fatura de um segundo acordão poderia ser ainda mais alto. A menos que a denúncia fosse fraca.