Do almoço, Temer saiu convencido de que Cunha estava determinado a colocar o impeachment em marcha. Só não sabia quando. No fim da tarde de quarta-feira 2 veio a confirmação. Temer estava reunido em seu gabinete, na vice-presidência, com o ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves, do PMDB. A conversa foi interrompida pelo toque do celular do vice-presidente. O visor do telefone revelou que Eduardo Cunha estava do outro lado da linha. O vice ouviu que era chegada a hora. Temer finalizou a conversa. Não avisou a ninguém. Pediu para sua visita ligar a TV e aumentar o volume. Juntos, eles viram Cunha dar a largada para o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Formal, contido e avesso a polêmicas, Temer se preparou para esse momento. Desde maio, tem recebido parlamentares da base, governadores, ministros petistas, representantes de associações empresariais e sindicais, militares de alta patente, presidentes de órgãos do Judiciário e, até mesmo, integrantes da oposição para suprir a falta de diálogo da Presidência. Também acelerou visitas às redações dos principais veículos de comunicação.
ESTILO ITAMAR
O vice Itamar Franco, tão logo assumiu o País em substituição a Collor,
reuniu à mesma mesa políticos de todas as colorações partidárias
Durante os encontros, o vice-presidente foi sempre muito discreto. Fez questão de deixar transparecer que não capitanearia nenhum movimento pró-impeachment. Ao mesmo tempo, mostrou-se pronto para cumprir sua prerrogativa de vice-presidente, que é a de substituir o titular do Executivo, caso fosse necessário. Sua maior preocupação era a de exibir credenciais capazes de levar o País rumo a um ambiente de unidade nacional.
Não por acaso, a figura do ex-presidente Itamar Franco, que substituiu Fernando Collor de Mello e promoveu um pacto entre empresários e principais lideranças políticas, foi reiteradas vezes lembrada nas conversas. Deu certo. Hoje, Temer é visto como a pessoa mais talhada para promover uma transição sem sobressaltos rumo à retomada do desenvolvimento.