Enquanto cuidam da saúde da população, esses trabalhadores agora lutam para sobreviver.
Feira de Santana, a segunda maior cidade da Bahia, está mergulhada em uma crise humanitária que atinge em cheio os profissionais terceirizados da saúde. Sem receber há três meses, esses trabalhadores – que já dedicaram horas incontáveis ao cuidado da população – agora enfrentam a dura realidade de não conseguirem sequer colocar comida na mesa.
Diante do descaso da empresa IGI, responsável pela contratação, e da falta de uma solução imediata por parte da gestão municipal, muitos funcionários estão recorrendo a “vaquinhas” solidárias para garantir o mínimo necessário à sobrevivência. Enfermeiros, técnicos e médicos, que um dia serviriam na linha de frente para salvar vidas, agora imploram por ajuda.
Esperar pelo quê?
O prefeito José Ronaldo, que assumiu seu quinto mandato há pouco mais de um mês, prometeu uma solução dentro de três ou quatro meses. Mas quem tem fome não pode esperar. Quem precisa pagar contas e sustentar seus filhos não pode viver de promessas.
O drama se estende há meses. A administração municipal carrega o fardo de uma gestão que, há quase três décadas, se reveza no poder sem conseguir garantir o básico para os trabalhadores terceirizados da saúde. A cidade, que deveria ser um símbolo de desenvolvimento e respeito aos servidores, tornou-se palco de um cenário vergonhoso, onde profissionais que salvam vidas são tratados com indiferença.
O pedido de socorro ecoa, mas será que alguém escuta?
Rádios, sites e blogs locais repercutem o desespero desses trabalhadores. O grito de socorro ressoa nos microfones e nas manchetes, mas nada parece abalar a frieza da gestão. O governo se cala, as autoridades fecham os olhos e a cada dia cresce o número de famílias desesperadas, sem perspectiva de quando – ou se – irão receber o que lhes é de direito.
A ironia é dolorosa: a pasta mais essencial para o bem-estar da população é a mais negligenciada. E o paradoxo é ainda maior quando se lembra que a gestão anterior foi comandada por um médico. Profissionais da saúde, que dedicam suas vidas para salvar outras, hoje são as principais vítimas de um colapso administrativo que insistem em se arrastar sem solução.
Não se trata apenas de atraso, mas de dignidade
Este não é apenas um problema administrativo, mas uma questão de humanidade. Famílias inteiras estão sendo levadas ao limite. As crianças veem seus pais saírem para trabalhar sem saber se voltarão com o suficiente para o jantar. Profissionais que deveriam estar focados em cuidar de vidas agora se veem imersos na angústia de não saber se conseguirão pagar o aluguel no fim do mês.
Se a gestão municipal não pode – ou não quer – agir, que o Ministério Público cumpra seu papel. Que a Justiça do Trabalho intervenha. Que os órgãos reguladores como o Cremeb e Conren tomem providências.
Feira de Santana não pode esperar mais trinta anos para recuperar sua confiança. Mas, mais do que isso, os trabalhadores da saúde não podem esperar nem mais um dia para receberem o que é deles por direito. O silêncio do governo precisa acabar. E a justiça precisa, finalmente, ser feita.