O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pregou o resgate da soberania nacional, defendeu a Petrobras e repisou falas em prol da criação de empregos e do combate à fome ao lançar neste sábado (7) sua pré-candidatura à Presidência da República em chapa com Geraldo Alckmin (PSB) de vice.
“O grave momento que o país atravessa, um dos mais graves da nossa história, nos obriga a superar eventuais divergências”, disse, diante de uma imagem da bandeira do Brasil. “Queremos unir os democratas de todas as origens e matizes […] para enfrentar e vencer a ameaça totalitária.”
O petista buscou se contrapor ao principal adversário na disputa, o presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmando que ele é autoritário e ataca a soberania, a democracia e as instituições. Acusou-o de mentir para esconder sua incompetência e de destruir o que foi conquistado nos anos do PT no governo
O discurso escolheu temas como inflação, miséria e desemprego para fustigar Bolsonaro e, em um momento de disparada dos preços de combustíveis e contestações à política de preços da Petrobras, defendeu a soberania energética e responsabilizou o atual governo pelo desmantelamento da empresa.
“O resultado desse desmonte é que somos autossuficientes em petróleo, mas pagamos por uma das gasolinas mais caras do mundo, cotada em dólar, enquanto os brasileiros recebem os seus salários em real”, disse o ex-presidente, que exaltou legados de sua gestão em várias áreas.O plano, afirmou, é resgatar o receituário que mesclou “crescimento econômico com inclusão social” e voltar a ter protagonismo no cenário internacional, partindo do fortalecimento regional na América Latina e da estabilidade interna para atrair investimentos.
Nunca foi tão fácil escolher”, afirmou. “Para sair da crise, crescer e se desenvolver, o Brasil precisa voltar a ser um país normal. A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É imperioso que cada um volte a tratar dos assuntos de sua competência”, acrescentou, sobre harmonia entre os Poderes.
O petista disse ainda ser preciso que “o fascismo seja devolvido ao esgoto da história, de onde jamais deveria ter saído”. Segundo ele, o ato deste sábado foi um chamado aos democratas que desejam reerguer o país e a quem quiser ajudar a organizar “a maior revolução pacífica” da história.
“Nós queremos muita gente na rua, e ninguém pode ter medo de provocação. É proibido ter medo de provocação, de fake news, de provocações via ‘Zap’, via Instagram. Nós vamos vencer essa disputa pela democracia distribuindo sorriso, carinho, amor, paz, e criando harmonia.”
Líder das pesquisas de intenção de voto para outubro, mas pressionado por aliados nas últimas semanas por tropeços de comunicação e problemas internos na coordenação da campanha, Lula leu o discurso em tom protocolar, em vez de falar de improviso, como vinha fazendo em suas aparições.
Com diagnóstico de Covid-19 recebido nesta sexta-feira (6), Alckmin não compareceu pessoalmente e participou do evento realizado no Expo Center Norte (centro de convenções na zona norte da capital paulista) por meio de vídeo ao vivo, em um telão.
A ida para uma cadeira no ministério de Bolsonaro também pesou contra Moro, assim como os diálogos entre integrantes da Lava Jato obtidos pelo site The Intercept Brasil e publicados por outros veículos de imprensa, como a Folha, que expuseram a proximidade entre o juiz e os procuradores do Ministério Público Federal.
Outro marco simbólico para a batalha judicial do petista ocorreu neste ano, quando o ministro Ricardo Lewandowski, do STF, suspendeu a única ação penal ainda ativa contra o ex-presidente, que tramitava em Brasília, da Operação Zelotes.
Com o arquivamento de acusações e a declaração de prescrição de casos, hoje é improvável que Lula volte a ser condenado criminalmente na Lava Jato e operações relacionadas.
No mês passado, o Comitê de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) concluiu que os procuradores da Lava Jato e Moro foram parciais em relação aos casos investigados contra o ex-presidente.
O órgão divulgou um relatório afirmando que a investigação e o processo penal “violaram seu direito a ser julgado por um tribunal imparcial, seu direito à privacidade e seus direitos políticos”.
A manifestação, em resposta a um pedido apresentado pelos advogados de Lula, não tem nenhum efeito jurídico, mas tem peso político para fortalecer o discurso de ter sido vítima de ao Minuto perseguição política, às vésperas da disputa eleitoral na qual lidera as pesquisas de intenção de voto.