O conselho do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) de que João Doria (PSDB) precisa se nacionalizar se quiser concorrer à Presidência da República em 2022 deu a dimensão dos obstáculos que o governador paulista terá que superar para alcançar seu objetivo.
Doria enfrenta dificuldades internas, com resistência de parte dos tucanos ao seu nome, e externas, pois precisa recuperar prestígio entre seu eleitorado. A eleição municipal na capital paulista, apesar de ter sido vencida pelo aliado Bruno Covas (PSDB), escancarou a rejeição dos moradores de São Paulo ao governador.
Mirando o Planalto, Doria investe na articulação para formar uma frente de partidos de centro -mas antes de vislumbrar ser escolhido candidato por esse bloco, precisa aglutinar apoios no PSDB.
Membros do partido têm a avaliação de que Doria tem prestígio e aliados entre os tucanos paulistas, até por controlar o diretório estadual da sigla, mas está longe de ser unanimidade entre líderes do PSDB de outros estados.
A principal aposta de Doria para cair nas graças dos paulistas e tornar-se conhecido pelo país é a vacina do laboratório chinês Sinovac, que será produzida pelo Instituto Butantan. O imunizante antecipou a disputa eleitoral com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que pretende concorrer à reeleição.
Colher resultados em São Paulo e diminuir a rejeição dos eleitores é condição para que tucanos de todo o país abracem sua candidatura em 2022.
Eleito em primeiro turno, em 2016, para a Prefeitura de São Paulo, o empresário neófito na política logo desencantou o eleitor ao abandonar o posto para concorrer ao governo do estado. Em 2018, voltou a vencer, mas por margem apertada -51,75% a 48,25%.
De maneira reservada, tucanos de fora de São Paulo afirmam que o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), é mais querido e bem visto para a corrida nacional de 2022.
Já membros do PSDB de São Paulo afirmam que Doria será candidato sem dúvidas e planejam pleitear a ele ou a Covas a presidência do partido em maio, o que ajudaria a consolidar seu nome.
Os paulistas, apesar de já verem Doria com dimensão nacional inconteste e entregas para exibir, afirmam que sua costura federal ainda será feita, por meio de conversas com líderes regionais.
Os tucanos resistentes a Doria dizem que ele não representa os ideais da social-democracia e tem tornado o PSDB um partido de paulistas. Avaliam que o governador não tem capilaridade no norte e no nordeste, e nem entre minorias.
Os duros embates com Bolsonaro, com provocações da parte de Doria, somados à virada ideológica dele, da direita “Bolsodoria” ao centro democrático, tampouco ajudam. A leitura é a de que o tom do governador está acima da moderação que o partido prega. Destoa ainda do resgate da política e da social-democracia “”que Doria em tempos de gestor já quis enterrar.
Há ainda o trauma de 2018, quando o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), apesar de bem avaliado em São Paulo, teve apenas 4,76% dos votos para presidente. Para não contar apenas com seu quintal, tucanos afirmam que Doria deve viajar pelo país, conhecer realidades distintas, buscar identificação com o povo, sujar o sapato e bagunçar o cabelo “”sua imagem de “engomadinho” não foi superada.
Outro ponto é o de que Doria é visto no PSDB como alguém que impõe sua vontade e atropela em vez de buscar o convencimento e o diálogo. Nesse sentido, o governador terá que cicatrizar feridas.
Aqui são lembrados dois episódios que demonstram a falta de habilidade política de Doria e deixaram sequelas. O primeiro se refere aos pedidos de expulsão do deputado Aécio Neves (PSDB-MG), bancados pelo governador e que foram derrotados na executiva do partido em agosto de 2019.
O segundo foi a interferência direta de Doria na votação da bancada federal tucana para escolha de seu líder, algo que os deputados afirmam jamais terem visto. Há um ano, o governador chegou a articular licenças e filiações de deputados até alcançar a maioria que lhe favoreceu, estabelecendo Carlos Sampaio (PSDB-SP) como líder.
Parlamentares mencionam essa disputa como exemplo de que Doria flerta com o autoritarismo. Outros falam em caldo de resistência da bancada ao governador e lembram que o tucano comprou brigas mesmo dentro de São Paulo, com Alckmin, e desapontou a ala histórica do PSDB.
Entre os tucanos, há quem diga que uma candidatura de Doria seria isolada, não iria atrair o bloco de partidos de centro -veem que o governador serve ao papel de manter o PSDB no jogo para 2022, mas não irá se viabilizar.
A maioria, porém, afirma que as dificuldades de Doria são superáveis e que ele poderá encabeçar uma chapa do PSDB ao Planalto, ainda que nem todos os tucanos embarquem em sua campanha.
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, tem dito que Doria é o principal nome da sigla, mas que é preciso dialogar com outros partidos para depois discutir alternativas e decidir de forma democrática.
“Ele tem esse ímpeto, essa vontade, essa disposição. É um nome forte. É governador do maior estado, o que proporciona a ele condições de ser competitivo”, diz o deputado federal Celso Sabino (PSDB-PA), adversário de Doria na disputa da liderança.
“Tem todos os atributos e qualidades para se transformar num candidato competitivo do PSDB. Honesto, capaz, preparado, inteligente”, afirma o presidente do PSDB mineiro, deputado federal Paulo Abi-Ackel.
Braço direito do governador, o presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi, diz que Doria focou em resultados para São Paulo e isso irá credenciá-lo para conduzir o país. Afirma ainda que o tucano renovou o partido e o tornou líder isolado em prefeituras no estado.
“Sua projeção nacional é evidente, sendo o principal antagonista de um governo irresponsável na pandemia e o líder em um processo de obtenção da vacina para a imunização dos brasileiros”, diz.
Noticias ao Minmuto